Iniciamos nesse 1º de janeiro, mais uma jornada ao redor do Sol. Nosso planeta na estonteante velocidade média de 29,5 km/s, irá percorrer nesses 365 dias e 5 horas, 942,4 milhões de quilômetros ao redor do Sol, algo que em linha reta nos levaria além da órbita do planeta Júpiter. Isso nos permite algumas reflexões sobre espaço, tempo e vida. No mundo atual, como estranhos em nosso próprio habitat, o ser humano vive a Era Espacial em meio a notáveis conquistas tecnológicas, mas ainda não aprendeu conhecer a grandeza da sua pequenez e da sua estupidez. Multidões não se interessam em saber a luz da ciência e da razão, o que são, onde estão e para onde vão. A maioria vive porque respiram e colocam seu destino final com o preconizado pelas religiões sem questionar o que lhe é imposto pelos livros sagrados. É mais cômodo viver assim. Advindo qualquer infortúnio, é a vontade de Deus, um Deus miserável como eles mesmos insensível a um futuro de sofrimentos que ele sabe irá acontecer. Concepção esta que não se sustenta mas que ,felizmente, encontrou melhor entendimento na sabedoria milenar de algumas filosofias orientais que a partir dos séculos XIX e XX viriam florescer em novas doutrinas e crenças descortinando o véu do obscurantismo teológico mostrando que a fé nunca pode estar divorciada dos conhecimentos científicos.
O grande salto viria com Charles Darwin terminando com o homem de barro e a mulher da costela; com Galileu Galilei destronando a Terra do centro do universo e da Criação e com Giordano Bruno e Camille Flammarion dando inicio ao fim do nosso isolamento cósmico. Esses novos conhecimentos abriu o grande portal da astronomia e ciências biológicas. Infelizmente eles ainda encontram-se ausentes na maioria das pessoas que pensam estar vivendo a época mais importante de todas. Doce ilusão de crianças que acariciam suas bonecas ... Os egípcios, os romanos, só para ficar nesses dois exemplos, cultivavam o mesmo pensamento. O que sobrou de suas civilizações ? ruínas , pedras e pó. Exemplos que a maioria dos humanos não absorveram.
O estudo e a observação do céu é uma experiência de transformação e ampliação da consciência, proporcionando satisfação íntima, conhecimentos científicos e elevação espiritual. Ao final, ela nos mostra que somos simples engrenagens de um universo desconhecido e que na história da Criação, cem milhões de anos passam como um dia; apagam-se, dissipam-se como fugitivo sonho, no seio da eternidade que tudo absorve. Tudo no universo está inexoravelmente preso a marcha do tempo. E nesse raciocínio, nessa contemplação retrospectiva, surge inevitavelmente uma questão de cunho filosófico : qual o destino final de todos os seres pensantes que existiram, existem e existirão nos miríades de mundos habitados ? Como aqui irão tombar numa sepultura, num crematório para não ser mais nada ? Não cabe aqui enveredar nessa questão pois, no infindável universo, somos como um grão de poeira ao sabor dos ventos do deserto. O ano que foi certamente será o ano da estupidez. Um vírus letal lançado na humanidade causando uma monumental pirâmide de cadáveres. O ano que vem mostra que, apesar da vacinação, estaremos ainda mergulhados por vários meses num oceano de incertezas e sofrimentos.
Nelson Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.
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